inutilidade...

Hoje fui chorar na beira do mar...
Inútil!
Bem sei que um punhado de lágrimas é tão inútil para o salgar como as gotas que caíram para o molhar...

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Foi e deixou atrás a noite, apenas a noite. E que Noite…

Percorri o rasto do seu perfume doce, talvez achocolatado, mas, definitivamente doce até à porta que deixou totalmente aberta àquela Noite…após se inebriarem com a escuridão, os meus olhos despertaram agilmente para os milhares de pontos cintilantes no céu da montanha adormecida, mas viva, definitivamente viva, vibrante de vida sim, mas viva ela mesma. A montanha parecia respirar, parecia crescer em direcção ao luzeiro celestial.

A Noite foi muito mais do que este mar enfeitiçado de luz vibrante, foi mais do que o ar puro, revigorante e perfumado primaverilmente da montanha…foi mais do que o espelho imenso das águas serenas do Lago…

Recordo-me por momentos de quando era miúdo e vinha visitar os meus avós no interior, numa casa que era velha, no meio de umas montanhas…mas rapidamente esta imagem desgastada renasce em novas memórias que se criam e se misturam com o passado.

A infância lá me deixava perceber o valor, o imenso, mágico e inestimável valor desta casa que é afinal antiga, não velha? As histórias mirabolantes, impregnadas de velhos saberes que o meu avô me contava quando íamos pescar no rio eram toda a fantasia que cabia nas memórias deste sítio. Com a grande barragem da terra vizinha veio uma albufeira, para mim seria sempre o Lago, a pesca perdeu o interesse de uma adolescente pouco rebelde mas inevitavelmente adolescente, e a casa perdeu definitivamente a magia. Foi necessário dar espaço e tempo decorrido em muitas noites para inspirar com todos os meus sentidos e insuflar as minhas ideias naquela Noite.

Recordo-me de, há uma semana atrás, estar sentada na praia…os pés enterrados na areia e as ideias em pensamentos chuvosos. Nos intervalos das ideias, tivera o desejo que chovesse…queria que chovesse!

Choveu!

Choveu mesmo, não do meu desejo que chovesse claro…mas choveu e desejava - nos momentos que precederam a queda das gotas – que chovesse deveras!

Na mesma noite, na tenda, naquele monte alentejano ouvimos mais do que o rugido afastado do mar, mais do que um vento tenebroso que agitava a tenda com o seu assobio…talvez o mar e o vento tenham acalmado de súbito, talvez os nossos sentidos estivessem entorpecidos pelo sono…é difícil de explicar: num sítio ermo onde não há qualquer luz de candeeiro, quando a madrugada ainda está longe de se render aos primeiros raios de luz e o que nos rodeia é a solidão de um monte abandonado há anos, salpicado de ruínas de casas de paredes grossas, despidas de tectos, embrulhadas em silvas, ervas daninhas trepadeiras…no meio do nada, no meio da noite, no meio do silêncio – pois não só o vento e nem só o mar se tinham calado, o coro de grilos também se silenciou abruptamente – e, no meio de todos estes nadas afinal: um uivo prolongado a estender-se por toda a distância mas tão perto de nós. Ao primeiro uivo – próximo, trespassante – seguiu-se outro mais distante, e outros dois e mais um, a distância estava preenchida destes tenebrosos uivos e os nossos corações latejavam nos ouvidos. Quando os uivos mais distantes se calaram o que iniciou todo o frenesim recomeçou – agora mais próximo e com o encurtar da distância – garanto – um incremento arrepiante na profundidade deste uivo longo, forte, penetrante directo ao interior…quando se calou…quando se calou este começaram os outros, o outro, os outros dois e mais um, mas já não havia uma distância que preenchesse os sentidos…todos estavam mais próximos e nitidamente a aproximarem-se de nós. Desejei que não fossem lobos, as histórias de lobos que ouvia na minha infância fizeram esse desejo por mim talvez: Que NÃO fossem lobos! Os lobos atacam em matilha! Mas os cães esfomeados também o fazem, nas Notícias falam disso e dos rebanhos que atacam! E estão próximos e a aproximarem-se!

Calaram-se…sem mais calaram-se.

E afastaram-se dali, das nossas preocupações, não trocámos uma palavra, não trocámos um olhar sequer…éramos um só alívio, cravados num abraço honesto e apertado numa segurança inexplicavelmente tranquila, respirámos fundo e adormecemos, só falámos novamente nisso nesta Noite.

terra...







Que valor tem um alguém que não se consegue medir num reflexo de sombra de um nada qualquer? Semelhante a tantos grãos de areia que escorre dos dedos e se dilui no deserto…

(talvez:) - Terra, cobrir-me em terra.

(mas:) - Terra é fonte de Vida.

(e:) - Dá Fruto.

(terra:) - Cria e Sustenta o Ser.

(ou talvez apenas:) - Terra é pó no vento…

sonho ao palco...



A vontade de sonhar dançou ontem pela minha inspiração afora. Recomendo que vejam um espectáculo Dançando com a Diferença...não deixem o título influenciar a pré-opinião, e não deixem esta minha opinião influenciar a vossa pois esta minha humildemente recusa-se a estar à altura...



Senti-me tocado pelo sonho tornado dança de um bailarino que sem ver um pôr-do-sol o sabe desejar mais do que eu que tanto gosto deste momento crepuscular...que o posso ver e revisitar a cada momento de saudade da fusão das cores da paleta mais rica do espectro da cor...








Se o Sol quando nasce é para todos

Não nasce para todos da mesma forma

Mas é o mesmo Sol
É o mesmo sonho

Como a Lua que o vem render
Imensa, vizinha das estrelas
É a mesma Lua
Conheci naquele palco (vários e) uma "bailarina famosa" que será "reconhecida internacionalmente"...pode não o ser por dançar perfeitamente em pontas, mas pelo sonho, pela sintonia e coordenação de movimentos em palco, e no coração certamente...
Afinal "sweet dreams are made of this"...

diálogos surdos

- Tenho-te como nunca antes
Porque te tenho em mim,
Na minha história...
- Atirei contra ti
Palavras doces, sábias
Sentidas...
- E as escolhas feitas ao sabor da vontade
Ontem,
Perpetuam-se pelo Infinito...
Por entre as linhas do que ficou escrito contam-se histórias do que ficou por dizer...

domingo à tarde...



aos domingos costumam dar aqueles filmes 'cómico-româticos' que só chegam a repetir umas 27 ou 32 vezes...num desses filmes aparece um banco de jardim com uma gravação que estupidamente me 'toca' cada vez que a vejo, fica a partilha:


"For June who loved this garden from Joseph who always sat beside her"


nesta frase cabem 2 vidas e toda uma história daquilo que será realmente o Amor...é domingo e hoje estou piegas se calhar...

feliz quando os seus pés se tocavam

ela estava a admirar os pormenores arredondados das nuvens e sentiu na nostalgia uma certeza:
era feliz quando os seus pés tocavam nos dela!

No início havia uma linha ténue, invisível até.
Essa linha tornou-se real,
Assemelhava-se a um pequeno ribeiro,
Um ribeiro que podia saltar de um só fôlego
quando a vontade assim o exigia

O ribeiro vestiu-se de águas até se tornar rio.
O rio era imenso, cheio de correntes e remoinhos
Mas não impossível de vencer,
Pois se até o Estige se atravessa por uma moeda,
Houvesse uma ponte ou o Barqueiro Caronte...

Não há curso que se interponha a uma vontade de o vencer pensava ela...nascesse nela a vontade...

Não!


Toda uma invasão atinge-me num turbilhão invernoso que cinge o coração espremendo a angústia por todo o corpo…confiamos nos nossos mecanismos que se activam automaticamente em escudo num campo de forças mas a Força escoa-se por entre uma inércia serena que manieta a própria Acção! É uma vontade de ter Vontade e é um Mas…é um Nada…